domingo, 27 de dezembro de 2015

ERROR 451


O tradicional erro 404 só não é mais frustrante porque alguns sites (como o Disqus, faça o teste) são bastante criativos nos avisos de página não encontrada. Mas nem sempre a página está ausente: às vezes o código 404 (ou outros, como o código 403) aparece no lugar de endereços que, na verdade, foram censurados. Agora há um código HTTP específico para esses casos: o 451.

Esse código foi proposto em 2012, por Tim Bray a partir de uma sugestão de Terence Eden, ambos desenvolvedores de software, mas só agora os membros do Internet Engineering Steering Group (IESG) — um grupo responsável por definir determinados padrões na internet — aprovaram a sua adoção. Não é para menos, pois eles tiveram que avaliar vários fatores para descobrir se a criação desse código faz sentido. E faz. O objetivo condiz com um aspecto que ganha cada vez mais relevância, que é a transparência na web.

A ideia é simples. Ao se deparar com o erro 451, o usuário saberá imediatamente que aquela página está inacessível por consequência de uma ordem judicial ou de alguma proibição imposta por autoridades de algum país. O significado resumido do código 451 é “Unavailable For Legal Reasons” (“Indisponível por Razões Legais”, em tradução livre).

Além do código HTTP em si, é de se esperar que a página dê alguma explicação sobre as razões do bloqueio, incluindo aí que entidade determinou a não disponibilização do conteúdo, a lei que foi violada, qual o contexto da ordem e assim por diante. O importante é que fique claro para o usuário que aspectos legais (ou, dependendo das circunstâncias, políticos) estão impedindo o acesso à página e não problemas técnicos.

Por que “451” e não outro número? A explicação é bem interessante. Esse código foi escolhido em referência ao livro de ficção científica Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Na obra (que também ganhou uma adaptação para o cinema), bombeiros têm a missão de destruir livros sob o argumento de que a sua leitura causa infelicidade nas pessoas e gera divergências de opiniões.

Não poderia haver alusão melhor, não? O 451 também condiz com os padrões de códigos já adotados. A série 4xx, por exemplo, diz respeito a conteúdo indisponível (404: página não encontrada, 403: conteúdo proibido, entre outros), os erros 5xx geralmente se referem a problemas no servidor (como o erro 503: serviço indisponível), e assim por diante.

Um simples código de status não vai colocar fim à censura na internet, mas ajudará bastante a se ter uma boa ideia da dimensão do problema. O próprio IESG reconhece que alguns governos podem dificultar a adoção do código 451 justamente para encobrir ações abusivas. Por outro lado, nada impedirá que o novo código seja usado por Google, GitHub e tantas outras empresas que são obrigadas a bloquear conteúdo em seus serviços por razões que fogem do razoável.

As definições do código ainda precisam passar por algumas revisões, mas, segundo o IESG, o erro 451 já pode ser exibido em páginas bloqueadas.

Nota - Embora a não disponibilização de conteúdo por questões políticas estejam entre as razões para a criação do código 451, é importante ressaltar que nem todo bloqueio pode ser considerado censura. Se uma página expõe a intimidade de uma pessoa sem autorização ou promove discursos racistas, por exemplo, não há aí nenhum tipo de excesso por parte das autoridades, pelo contrário: o bloqueio é uma ação esperada. Nessas circunstâncias, o código 451 cumpre a função de informar ao visitante que aquele endereço está inacessível por ferir leis ou caracterizar um crime.

Com informações de The Verge


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